sábado, 23 de fevereiro de 2008

Ibama registra despesas de R$ 23 mil em clínicas de estética

Depois dos cartões corporativos, agora é o Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) que pode estar sendo utilizado para gastos irregulares de recursos públicos. O POPULAR apurou que a Superintendência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de Goiás gastou pelo menos R$ 23,39 mil com serviços de uma clínica de estética entre 2005 e 2007. O próprio Ibama e o Ministério Público Federal (MPF), que já estão investigando o suposto desvio, acreditam que o rombo pode ser ainda maior.
Os pagamentos, segundo as investigações, seriam efetuados de forma irregular pelo Siafi, camuflados juntamente com outras transferências de valores referentes a despesas regulares do órgão, como pagamento de conta telefônica. O Ibama teria detectado a suposta irregularidade no último dia 15, após ser questionado por um jornal carioca sobre despesas com a empresa Angela Karina Centro de Estética Ltda. As informações estavam no Portal da Transparência, que publica os gastos do governo federal.
Segundo a prestação de contas do instituto, em 2005 foram gastos R$ 3.837,42 com o centro de estética. Em 2006 foram R$ 9.523,87 e em 2007, R$ 10.038,64. A discriminação dos supostos serviços prestados pela empresa, segundo publicado no Portal da Transparência, indicam gastos com “locação de mão-de-obra”, “material de consumo” e “outros serviços”. A clínica, que fica no Setor Marista, segundo funcionários, oferece tratamentos estéticos como limpeza de pele, maquiagem definitiva, peeling, hidratação, drenagem linfática e banho de lua.
Procuradas pela reportagem, as proprietárias do centro de estética não foram localizadas. Funcionárias do estabelecimento se recusaram a repassar as ligações ou fornecer número de contato. Se limitaram a dizer que a clínica possui cadastro completo de todos os clientes, mas não se recordam de terem entre eles algum servidor do Ibama.
LaranjaA suspeita do Ministério Público Federal é de que a irregularidade tenha sido cometida por servidores da área contábil do instituto, com a possível participação de pessoas de fora do órgão. O MPF investiga também se o centro de estética foi usado como laranja para o desvio de recursos e se há a participação de outras empresas no esquema. O Ibama, que vinha tratando o caso como sigiloso, abriu sindicância interna na segunda-feira e, no mesmo dia, encaminhou as suspeitas ao MPF.
O superintendente do Ibama em Goiás, Ary Soares dos Santos, acredita que, apesar da falha na segurança do Siafi, o próprio sistema pode revelar qual servidor teria efetuado os pagamentos irregulares. “Estamos levantando os dados dos últimos cinco anos e já temos indícios de outros gastos irregulares, além dos efetuados com o centro de estética”, afirmou o superintendente.
“Estou convicto de que não há justificativa para o Ibama gastar dinheiro com uma clínica de estética. Só não divulgamos antes para evitar o desaparecimento de provas”, explica. Ary Soares disse que deve se pronunciar oficialmente na próxima semana, quando pretende mostrar um balanço preliminar das investigações.
Na noite de ontem, após ser entrevistado pelo jornal O POPULAR, o superintendente emitiu nota à imprensa confirmando que instalou uma Comissão de Sindicância, composta por três auditores enviados pela presidência nacional do Ibama, para apurar “pagamentos de atividades estranhas às finalidades do órgão”. Afirmou no texto que “diante da vulnerabilidade do sistema de pagamentos”, seria realizada uma “profunda” auditoria nas contas da superintendência. Posteriormente, informa a nota, será instalado Processo Administrativo Disciplinar para punir eventuais culpados.

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